quinta-feira, 25 de abril de 2013

Filhos da Madrugada

Portugal comemora, mais uma vez, a Revolução de 25 de Abril. Sinto-me sempre emocionada neste dia porque me lembro de como era um dia importante para o meu pai. Em miúda acompanhei-o sempre no desfile que se fazia na minha terra.

Imagino a excitação que ele deve ter sentido na manhã desse dia 25 de Abril de 1974 quando foi impedido de ir trabalhar porque, para chegar ao local de trabalho, teria de passar por uma das estradas por onde passavam as colunas militares. A excitação pelo fim iminente da ditadura, pela esperança na liberdade. Uma alegria incontida pela mudança que se adivinhava naquelas horas. Uma alegria como só alguém nascido e criado no Alentejo daquele tempo podia sentir.

Imagino o medo que a minha mãe deve ter sentido, por si e pelo bébé que trazia no ventre, eu. Ela conta-me que durante esse dia foi muitas vezes à janela para tentar ver ou ouvir alguma coisa.

Imagino a euforia dos dias que se seguiram. Contaram-me que o meu pai foi muito activo no recenseamento das pessoas lá da rua. Durante anos habituei-me a ver o meu pai nas mesas de voto e a sair algumas noites para as reuniões da Assembleia de Freguesia.

O que os meus pais viveram e me transmitiram faz-me acreditar que o espírito de Abril ainda não está morto. Por tudo o que me ensinaram ao longo dos anos é que eu continuo a fazer questão de cumprir o meu dever e direito de voto. Por piores que seja a nossa classe política, não nos devemos demitir de intervir nem que seja pelo boletim de voto. Para que continuemos a viver no país livre e democrático que os nossos pais e avós sonharam.

A responsabilidade é nossa, nós que somos os filhos dessa madrugada.

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