A notícia da morte, na passada sexta-feira, da centenária Infanta Maria Adelaide de Bragança passou, praticamente, despercebida. Tão discreta foi ao morrer como discreta foi a sua vida. Eu confesso que também nunca tinha ouvido falar dela. Aqui há tempos vi, na montra de uma livraria da Costa de Caparica, a sua biografia escrita por Raquel Ochoa que tem o sugestivo título de "A Infanta Rebelde". Chamou-me a atenção por haver a indicação de que se tratava de uma centenária que vivia ali mesmo, na zona da Costa de Caparica. Na altura nem pesquisei de quem se tratava mas ontem vi este post de Helena Sacadura Cabral e, finalmente, foi tentar perceber quem foi esta mulher.
Maria Adelaide Manuela Amélia Micaela Rafaela de Bragança nasceu em França, a 31 de Janeiro de 1912 e era neta do Rei D. Miguel, o Absolutista. O seu pai foi o único filho de D. Miguel. A 2ª Guerra Miundial apanhou em Viena, Áustria. Durante a guerra trabalhou como enfermeira e assistente social onde conheceu o seu futuro marido, Nicolas van Uden, um jovem estudante de Medicina. As suas actividades, nessa altura, incluiam a ajuda aos feridos dos bombardeamentos e envolveu-se na resistência austriaca tendo chegado a ser presa pela Gestapo por duas vezes escapando aos fuzilamentos por pouco. Em 1949 veio viver para Portugal, estabelecendo-se na zona da Costa de Caparica onde também se dedicou ao trabalho social nas zonas mais pobres da Margem Sul nomeadamente na Trafaria e no Monte de Caparica. Tudo isto ela fez na mais completa discrição. «Ela [Maria Adelaide] percebeu que através da discrição não era notada nem perseguida, além de, por educação, não gostar de fazer alarde do que faz. Há zero de gabarolice nesta família, o que é a antítese da sociedade em que vivemos», disse a sua biográfa ao Sol.
O seu marido Nicolaas van Uden foi o fundador do Instituto Gulbenkian da Ciência.
Maria Adelaide de Bragança foi condecorada, pelo Presidente da República, no dia em que completou 100 anos com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito Civil.
Será possível ainda surgirem, hoje, portugueses e portuguesas com esta determinação e coragem?!