domingo, 19 de janeiro de 2014

Eugénio de Andrade, 19-01-1923 - 13-06-2005

O sal da língua

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

O fim-de-semana não acaba sem mais uma efeméride poética. Eugénio de Andrade nasceu há 91 anos e publicou dezenas de livros. A sua poesia era, essencialmente, lírica. Também teve um importante trabalho como tradutor sendo tradutor, por exemplo, do argentino Jorge Luís Borges.

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