Eu, atrás do balcão, e as minhas colegas ali à volta. Aproxima-se uma senhora que eu tinha atendido há uns dias quando estava de serviço e diz, com o ar mais natural do mundo:
- Olhe o meu marido tomou os medicamentos que comprou aqui e já lá está debaixo da terra.
Eu, de olhos esbugalhados e queixo caído, penso, num primeiro momento, "Ela está a brincar" e, num segundo momento, penso "Ela está a culpar os medicamentos pela morte do marido". Mesmo assim pergunto:
- Como?
E ela continua (sem emoção, sem uma lágrima, como se estivesse a falar de outra pessoa qualquer:
- Pois, tomou os medicamentos, jantou bem, dormiu umas horas e morreu.
E ela vai contando os pormenores, toda bem disposta. Nunca, quase 12 anos de profissão me contaram da morte de alguém desta maneira tão desprendida. Nem queria acreditar.
6 comentários:
Isso é que era amor!
Coitada, a senhora se calhar ainda não estava a acreditar...
Aposto que tinha ar de viúva alegre :-)
Pensa que podia ser pior, ela podia culpar-te por teres vendido os medicamentos que mataram o marido...
Jorge
Bem... só consigo mesmo dizer o mesmo que tu: surreal!
Erpero que ela não leia este post.
Só faltou agradecer, dar um murrinho no ombro e dois beijinhos. O terror --'
Boa semana
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